REVISÃO MATÉRIAS


TROVADORISMO
CONCEITO

              Durante os séculos XII, XIII e XIV, desenvolveu-se um movimento poético que ficou conhecido por Trovadorismo. Nessa época, surgiram as cantigas, que eram poesias feitas para serem cantadas ao som de instrumentos musicais como a flauta, a viola, o alaúde e outros. O cantor dessas composições poéticas era comumente chamado de jogral e o autor delas recebia o nome de trovador. Daí a denominação dada a esse período – Trovadorismo.
A palavra trovador vem do antigo verbo trovar (“inventar, encontrar”). O trovador era aquele que “encontrava” as palavras certas, que sabia compor com arte.
           Jogral vem do latim jocularis, que, por sua vez, deriva de jocus (“divertimento”).
           Havia também o menestrel, superior ao jogral por ter mais instrução e habilidade artística, mas inferior ao trovador. Sabia tocar instrumentos e cantar. Menestrel vem do latim ministerialis (“encarregado de um serviço”).
           O centro irradiador do Trovadorismo na Península Ibérica foi a região que compreende o norte de Portugal e a Galiza. Na Galiza, havia a Catedral de Santiago de Compostela, famoso centro de peregrinação religiosa desde o século XI. As peregrinações atraiam muita gente e favoreciam o intercâmbio cultural. Muitos jograis certamente acompanhavam essas multidões. As cantigas trovadorescas eram cantadas em galego – português, língua falada naquela região. Só a partir do século XV, a língua portuguesa passou a se diferenciar do galego, adquirindo, no século XVI, a forma moderna.

PANORAMA HISTÓRICO


Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente do século XII ao século XIV.
A partir desse século, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região ao norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galego-português. A produção literária dessa época foi feita nesta variação lingüística.
A cultura trovadoresca refletia bem o panorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero.
O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados.
Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.
Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detinha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la.
Além da nobreza (classe que pertenciam os suseranos) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda uma outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-se também à política.
Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã.
A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma. Nessa época, eram freqüentes as procissões, além das próprias Cruzadas - expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos.
Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece tentando tocar o céu.

PRINCIPAIS REPRESENTANTES
 
Paoi Soares Taveirós
              Paio Soarez Taveiroos (ou Taveirós) era um trovador da primeira metade do século XIII. De origem nobre, é o autor da Cantiga de Escárnio de Amor A Ribeirinha, considerada a primeira obra em língua galaico-portuguesa (e assim do por conseqüência em língua portuguesa). A Ribeirinha ainda é muito estudada, tanto devido a sua datação quanto a sua interpretação.

Martim Codax

           Martim Codax foi um trovador (possivelmente do século XIII) de muita sorte: ele é o único a Ter a melodia de suas cantigas preservadas (cinco melodias apenas, mas melodias). Muito estudado, já foi traduzido para diversas línguas e apresenta qualidades poéticas de certo refino.

D. Dinis

Dom Dinis (1261-1325) o Lavrador ou o Trovador, foi um rei importante para Portugal, não só pelas suas conquistas em termos de cultura (mandou fundar a Universidade de Lisboa, que depois se transferiu para Coimbra) e uso da língua (mandou que se redigissem documentos em português, não em latim), mas também e principalmente pelas suas conquistas na agricultura (drenou pântanos, plantou florestas, fez reforma agrária), economia (estimulou o comércio interno e externo) e política (apaziguou a Igreja com a Concordata de 1290). Mas o que nos interessa é sua lírica: 138 ou 139 cantigas, a maioria de amor, apresentando alto domínio técnico e lirismo, tendo renovado a cultura numa época em que ela estava em decadência em terras ibéricas.
 
FATOS HISTÓRICOS
A organização social tinha no comando a nobreza e o clero. No topo, a figura do rei: intermediário entre Deus e seu povo.
              O sistema político, social e econômico dominante na época é conhecido como feudalismo. O nome provém da palavra feudo, que consistia apenas de uma aldeia e centenas de acres de terra arável que a circundavam. Nessas terra, que não eram suas o povo trabalhava.
              A nobreza e o clero, proprietários do feudo, eram muito solidários entre si, a ponto de o clero reservar a membros da aristocracia os postos mais importantes da Igreja medieval: papas, arcebispos e bispos procediam da nobreza.
              O clero, portanto, detinha o poder espiritual e o poder material.
              O senhor feudal, também chamado de suserano, era dono das terras e das pessoas que nela trabalhavam. Consequentemente, conservava o poder sobre a força de trabalho dessas pessoas: o povo vivia sob o regime de servidão.
              O camponês, ao mesmo tempo que era explorado pelo suserano, dependia de sua proteção. Em caso de ataque, o senhor lhe dava refúgio em seu castelo. E os ataques eram freqüentes na época, pois toda a organização da sociedade feudal baseava-se na propriedade da terra, que era disputada através de constantes batalhas. Para proteger sua propriedade, o senhor feudal contratava guerreiros (os cavaleiros), que eram pagos não em dinheiro, mas através da concessão de pequenas extensões de terra.
              Surgiu daí um sistema de compensação: o cavaleiro protegia o feudo, e o senhor fornecia-lhe terras.
              Desse sistema despontou a figura do vassalo – que vivia sob a dependência do senhor e do qual o senhor também dependia para manter sua segurança, fortuna e prestígio.
              A essa dependência entre senhor e vassalo dá-se o nome de vassalagem, termo que nos interessa bastante no estudo da literatura da época, como você verá. A vassalagem supõe uma série de obrigações do vassalo para com o senhor e vice-versa.

MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
 
Disse Ezra Pound, poeta e crítico norte-americano, que os artistas são as “antenas” da raça e da época. Por isso, em suas obras, eles captam a feição de seu tempo. Podemos, então, afirmar que a arte produzida em determinado período revela a maneira como o homem desse período sente, analisa, aceita ou, às vezes, questiona o momento histórico em que vive.
              No contexto em que foi produzida, a arte medieval só podia estar impregnada de religiosidade.
              Dos estilos que se manifestaram na Idade Média, o gótico é o mais importante, sobretudo pela grandiosidade de suas obras. É dele que vamos tratar, ainda que superficialmente.
 
ARQUITETURA, ESCULTURA E PINTURA

Como a maioria dos pintores, escultores e arquitetos seguiam as diretrizes da Igreja, a característica fundamental do gótico é a religiosidade.
              Difundido por toda a Europa, o estilo gótico pode ser observado sobretudo nas catedrais do período, no geral obras gigantescas que se transformavam no centro das cidades que aos poucos iam surgindo.
              A arquitetura expressa a grandiosidade, a crença na existência de um Deus que vive num plano superior; tudo se volta para o alto, projetando-se na direção do céu, como se vê nas pontas, agulhadas das torres de algumas igrejas medievais.
              A escultura, por sua vez, não era uma arte autônoma: aparecia, sobretudo na decoração dos edifícios, exercendo a função de ilustrar os ensinamentos propostos pela Igreja.
              A pintura, quase sempre tratando de temas religiosos, apresentava personagens de corpos pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar voltado para ciam, em direção ao plano celeste.
              Os livros da época, todos manuscritos, eram enriquecidos com pinturas e iluminuras (decoração em cores feita nas letras maiúsculas ou parte dos manuscritos) que também refletem a intensa religiosidade da época.
              Assim como nas demais artes, a literatura medieval ora deixa ver claramente, ora permite apenas entrever a concepção de mundo da época.
              Da literatura européia interessa-nos a portuguesa, por razões obvias: Portugal foi o país que nos colonizou, do qual herdamos a língua e cuja literatura vai influenciar a literatura brasileira, pelo menos durante alguns séculos.
              O século XII marca o início da literatura portuguesa. Isso não significa que antes dessa data não tenham ocorrido manifestações literárias escritas. Provavelmente ocorreram, mas não contamos com documentação a esse respeito.
A tradição histórica considera como o primeiro texto literário português uma cantiga (poema musicado) escrita por Paio Soares de Taveirós, datada de 1189 ou 1198. O poema foi dedicado a d. Maria Pais Ribeiro – apelidada de Ribeirinha – que era amante de d. SanchoI. Essa cantiga tornou-se conhecida como “Cantiga de garvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha”.
              Abaixo estão trechos da cantiga, em duas versões: a original e uma versão atualizada.

No mundo non me sei parelha,
mentre me for’ como me vai,
ca já moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mão dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
 
No mundo não conheço ninguém que se compare
a mim em infelicidade.
Enquanto minha vida continuar como vai indo,
Porque já morro de amor por vós – e ai!
Minha senhora vestida de branco e de faces rosadas,
Quereis que eu vos descreva
Quando eu vos vi sem manto!
Em infeliz dia me levantei,
Pois vos vi bela, e não feia!

            Essa cantiga inaugura o estilo de época conhecido como Trovadorismo, compreendido entre os anos de 1189 (ou 1198) e 1434.
     A palavra trovadorismo origina-se de trovador, termo que designava o poeta na época. Além de escrever o poema, o trovador compunha a música que acompanhava o texto. Aliás, não havia poemas para serem lidos. Os poemas eram feitos para serem cantados: daí o seu nome de cantiga. No acompanhamento utilizavam-se principalmente a viola, a harpa, a lira e o alaúde.
              Os trovadores viajavam entre os feudos, apresentando-se nos castelos, para entreter as diversas cortes, ou nas praças, para divertir o povo. Às vezes se faziam acompanhar de bailarinos e artistas circenses.
              Além da produção literária em verso, havia também textos escritos em prosa, sobretudo as novelas de cavalaria.

A POESIA MEDIEVAL
 
Analisando a produção poética do período, os historiadores da literatura classificam as cantigas em dois tipos, cada um deles dividido em duas espécies, como mostra o quadro:

CANTIGAS DE AMOR

              Nesta cantiga o eu-lírico é masculino e o autor é geralmente de boa condição social. É uma cantiga mais "palaciana", desenvolve-se em cortes e palácios.
              Quanto à temática, o amor é a fonte eterna, devendo ser leal, embora inatingível e sem recompensa. O amante deve ser submetido à dama, numa vassalagem humilde e paciente, honrando-a com fidelidade, sempre.
              O nome da mulher amada vem oculto por força das regras de mesura (boa educação extrema) ou para não compromete-la (geralmente, nas cantigas de amor o eu-lírico é um amante de uma classe social inferior à da dama).
              A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta de correspondência gera a perda do apetite, a insônia e o tormento de amor. Além disso, a coita amorosa (dor de amor) pode fazer enlouquecer e mesmo matar o enamorado.

Como morreu quem nunca mar
Se fez pela coisa que mais amou,
E quando dela receou
Sofreu, morrendo de pesar,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem foi amar
Quem nunca bem lhe quis fazer,
E de quem Deus lhe fez saber
Que a morte havia de alcançar,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

CANTIGAS DE AMIGO

              As cantigas de amigo apresentam eu-lírico feminino, embora o autor seja um homem.
              Procuram mostrar a mulher dialogando com sua mãe, com uma amiga ou com a natureza, sempre preocupada com seu amigo (namorado). Ou ainda, o amigo é o destinatário do texto, como se a mulher desejasse fazer-lhe confidências de seu amor. (Mas nunca diretamente a ele. O texto é dialogado com a natureza, como se o namorado estivesse por perto, a ouvir as juras de amor). Geralmente destinam-se ao canto e a dança.
              A linguagem, comparando-se às cantigas de amor é mais simples e menos musical pois as cantigas de amigo não se ambientam em palácios e sim em lugares mais simples e cotidianos.
              Conforme a maneira como o assunto é tratado, e conforme o cenário onde se dá o encontro amoroso, as cantigas de amigo recebem denominações especiais.
-Alvas  (quando se passam ao amanhecer):
Levantou-s'a velida (a bela) / Levantou-s'à alva; / e vai lavar camisas / e no alto (no rio) / vai-las lavar à alva (de madrugada). - D. Dinis.
 
-Bailias (quando seu cenário é uma festa onde se dança):
E no sagrado (local sagrado, possivelmente à frente de uma igreja), em Vigo / bailava corpo velido (uma linda moça) amor ei! - Martim Codax.
 
- Romarias (sobre visitas a santuários, enquanto as "madres queymam candeas"):
Pois nossas madres van a San Simon / de Val de Prados candeas queimar (pagar promessas) / nós, as menininhas, punhemos d'andar (vamos passear). - Pero de Viviães.
 
- Barcarolas ou Marinhas (falam do temor de que o "amigo" vá às expedições marítimas; do perigo de que ele não volte mais.
Vi eu, mia madr' , andar / as barcas e no mar, / e moiro de amor! - Nuno Fernandes Torneol
 
- Pastorelas (quando seu cenário é o campo, próximo a rebanhos):
Oi (ouvi) oj'eu ua pastor andar, / du (onde) cavalgava per ua ribeira, / e o pastor estava i senlheira, (sozinha) / a ascondi-me pola escuitar... - Airas Nunes de Santiago.


Cantiga número 462 -  escrita por Aires Nunes.
Bailemos nós já tôdas três, ai amiga,
So aquestas avelaneiras froildas
E quen fôn velidas, como nós, velidas,
Se amig'amar
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Baliemos nós já todas três, ai irmanas,
So aqueste ramo desta avelanas,
E quen bem parecer, como nós parecemos
 
 
CANTIGAS DE ESCÁRNIO E CANTIGAS DE MALDIZER
 
              Gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.
              São composições que expressam melhor a psicologia do tempo, onde vêm á tona assuntos que despertam grandes comentários na época, nas relações sociais dos trovadores; são sátiras que atingem a vida social e política da época, sempre num tom de irreverência; são sátiras de grande riqueza, uma vez que se apresentam num considerável vocabulário, observando-se, muitas vezes o uso de trocadilhos; fogem às normas rígidas das cantigas de amor e oferecem novos recursos poéticos.
              Os principais temas das cantigas satíricas são: a fuga dos cavaleiros da guerra, traições, as chacotas e deboches, escândalos das amas e tecedeiras, pederastia (homossexualismo) e pedofilia (relações sexuais com crianças), adultério e amores interesseiros e ilícitos.
              Obs: Tanto nas cantigas de escárnio quanto nas de maldizer, pode ocorrer diálogo. Quando isso acontece, a cantiga é denominada tensão (ou tenção). Pode mostrar a conversa entre a mãe a moça, uma moça e uma amiga, a moça e a natureza, ou ainda, a discussão entre um trovador e um jogral, ambos tentando provar que são mais competentes em sua arte.

Cantigas de Escárnio

Apresentam críticas sutis e bem-humoradas sobre uma pessoa que, sem ter nome citado, é facilmente reconhecível pelos demais elementos da sociedade.
           As Cantigas de Escárnio e Maldizer, apesar de muita parecidas, tem suas diferenças. A de Escárnio contém uma sátira indireta, sarcástica, zombeteira e de linguagem ambígua. A de Maldizer é direta, agressiva e de linguagem objetiva. Mas nem sempre uma pode ser separada da outra.

 
A PROSA MEDIEVAL
              Nem só de poesia viveu o Trovadorismo.
              Enquanto em versos se cantava o amor ou se ironizavam situações e pessoas, outras eram as preocupações daqueles que escreviam em prosa.
              Considerada em seu conjunto, a prosa do período pode ser dividida em dois blocos: prosa de ficção e não-ficção.

Não-ficção
           Compreende os livros de linhagem e as hagiografias.
              As obras deste grupo não fariam parte da literatura, visto que são antes documentos. Registram nascimentos e casamentos da aristocracia e vidas de santos.
              No conjunto, sua leitura revela a mentalidade da época, enraizada num apego muito forte aos laços de sangue e na religiosidade que caracterizou o mundo medieval.
Ficção
Novelas de cavalaria

             Também floresceu um tipo de prosa ficcional, as novelas de cavalaria, originárias das canções de gesta francesas (narrativas de assuntos guerreiros), onde havia sempre a presença de heróis cavaleiros que passavam por situações perigosíssimas para defender o bem e vencer o mal.
Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro medieval, concebido segundo os padrões da Igreja Católica (por quem luta): ele é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para defender a honra cristã. Esta concepção de cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da corte, geralmente sedutor e envolvido em amores ilícitos. A origem do cavaleiro-heroi das novelas é feudal e nos remete às Cruzadas: ele está diretamente envolvido na luta em defesa da Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e dinamarqueses, inimigos da cristandade.
              As novelas de cavalaria estão divididas em três ciclos e se classificam pelo tipo de herói que apresentam. Assim, as que apresentam heróis da mitologia greco-romana são do ciclo Clássico (novelas que narram a guerra de Tróia, as aventuras de Alexandre, o grande); as que apresentam o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda pertencem ao ciclo Arturiano ou Bretão (A Demanda do Santo Graal); as que apresentam o rei Carlos Magno e os doze pares de França são do ciclo Carolíngeo (a história de Carlos Magno).
Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam uma autoria. Elas circulavam pela Europa como verdadeira propaganda das Cruzadas, para estimular a fé cristã e angariar o apoio das populações ao movimento. As novelas eram tidas em alto apreço e foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e os costumes da população da época. As novelas Amandis de Gaula e A Demanda do Santo Graal foram as histórias mais populares que circulavam entre os portugueses.
 
BIBLIOGRAFIA :    Língua e Literatura, Volume Único, Faraco e Moura, Editora Ática
                            Língua e Literatura, Volume 1 – 2º Grau, Faraco e Moura, Editora Ática
                            Estudos de Língua e Literatura, Douglas Tufano, Editora Moderna
                            Literatura Brasileira, Capítulo especial, Faraco e Moura, Editora Ática
     Literatura Brasileira, Das origens aos nossos dias, José de Nicola, Editora Scipione
HUMANISMO
        Ao final da Idade Média a Europa passa por profundas transformações. A imprensa é aperfeiçoada permitindo maior divulgação dos livros; a expansão marítima é impulsionada graças ao desenvolvimento da construção naval e à invenção da bússola; aparecimento da atividade comercial. Surge o mercantilismo, e com ele, a economia baseada exclusivamente na agricultura perde em importância para outras atividades. As cidades portuárias crescem, atraindo camponeses. Criam-se novas profissões e pequenas indústrias artesanais começam a se desenvolver.
        Uma nova classe social emerge nas pequenas cidades (burgos), composta por mercadores, comerciantes e artesãos, as quais passam a desafiar o poder dos nobres. Essa classe recebe o nome de Burguesia.
        O espírito medieval, baseado na hierarquia nobreza – clero – povo, começa a se desestruturar e o homem preso ao feudo e a o senhor adquire nova consciência. Diante do progresso, percebe-se como força criadora capaz de influir nos destinos da humanidade, descobrindo, conquistando e transformando o Universo.
        O homem descobre o homem. A idéia de que o destino estava traçado por forças superiores, a qual caracteriza a homem como ser passivo, vai sendo substituída pela crença de ele é o mentor de seu próprio destino. O misticismo medieval começa a desaparecer, e o Teocentrismo cede lugar ao Antropocentrismo.
        Portugal tem como marco cronológico de toda essa transição a Revolução de Avis (1383 – 85), quando D. João, o Mestre de Avis, aliado aos burgueses, proporcionou a expansão ultramarina. A tomada de Ceuta em 1415, primeira conquista ultramarina, Portugal inicia a longa caminhada de um século até conhecer seu apogeu.

Os valores humanistas

        Com as bases do feudalismo abaladas e diante de uma nova ordem econômica e social, inicia-se um período fundado numa economia comercial expansionista – o capitalismo comercial.
        Diante dessas alterações, o homem começa a valorizar o saber.
        Os humanistas passam a difundir a idéia de que os valores e direitos de cada indivíduo deveriam sobrepor-se as ordens sociais. Grandes admiradores da cultura antiga, estudavam, copiavam e comentavam os textos de portas e de filósofos greco-latinos, cujas idéias seriam amplamente aceitas no Renascimento.
        O Humanismo foi, portanto, o movimento cultural que esteve a par do estudo e da imitação dos clássicos. Fez do homem o objeto do conhecimento, reivindicando para ele uma posição de importância no contexto do universo, sem contudo, negar o valor supremo de Deus.

O movimento Literário

        O período compreendido como Humanismo na Literatura Portuguesa vai desde a nomeação de Fernão Lopes a cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Francisco Sá de Miranda da Itália, quando introduziu uma nova estética, o Classicismo, em 1527.

Gil Vicente
nasce o Teatro em Portugal

        O ano de nascimento do teatrólogo Gil Vicente, o introdutor do teatro em Portugal, não é conhecido ao certo; alguns assinalam que teria sido em 1465 ou 1466, e o ano de sua morte entre 1536 e 1540. Sabe-se, entretanto, que ele iniciou sua carreira teatral em 1502, quando, representando os servidores do Palácio do rei D. Manoel, declamou em espanhol o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro, na câmara de D. Maria de Castela .
        Vicente, figura cimeira do teatro português, foi homem de coragem, que não hesitou em denunciar com lucidez, mordacidade e sentido de humor os abusos, hipocrisias e incoerências que estavam a sua volta. Nada escapou a sua observação: o clérigo devasso e venal, esquecido do verdadeiro sentido de sua missão; o velho cúpido e avarento; a moça fútil e preguiçosa; a esposa infiel, hipócrita e interesseira – todos eles constituem personagens vivas, lançadas do tempo para a eternidade pelo genial Mestre Gil.
Foi assim que começou...
No mais rico cenário de então no Paço Real Português, na magnificente alcova real, horas depois de a rainha Dona Maria, mulher de D. Manuel, Ter dado à luz aquele que viria a ser El-rei D. João III, na noite de 7 para 8 de julho do ano da graça de 1502... "entrou um vaqueiro dizendo: Perdiez! Siete repelones / me pegaron à la entrada...".
...E mestre Gil, entrando naquela suntuosa câmara recamada de damascos e pedrarias, com seu Monólogo do Vaqueiro, inicia a sua carreira de dramaturgo. E, por ser coisa nova em Portugal, Dona Leonor lhe pediu que o repetisse, endereçado ao nascimento do Redentor, nas matinais do Natal, em 1502.

O Teatro de Vicentino

        A obra de Vicente é um documento vivo do que foi o Portugal da primeira metade do século XVI. O ambiente social deste momento da História apresentou ao dramaturgo enovelado numa série de fatores típicos. O clero, classe muito numerosa, estava presente em todos os setores da sociedade e a maior aparte de seus membros acusava uma singular relaxação de costumes.
        A nobreza estava em decadência, tanto econômica quanto culturalmente. Mas vivia alardeando riquezas, explorando o trabalho dos servidores e desprezando-os, prometendo tudo e nada dando.
        As profissões liberais também são referidas nas obras do dramaturgo das cortes de D. Manuel e de D. João III. Os médicos eram os charlatões que pouco sabiam do seu ofício, explorando os clientes.
        O camponês, de condição miserável e alienada, era o sustentáculo da hierarquia feudal ( clérigos e nobres). Mas, como todo homem, tem a ambição e aspira a viver na corte.
        No aspecto religioso, debatia-se a questão das indulgências, perdões e outras fontes de reditos para a Santa Sé, criticavam-se as rezas mecânicas, o culto dos santos e as superstições.
        Um outro aspecto que merece atenção na época é a infidelidade conjugal das esposas, conseqüência da partida dos maridos nas armadas das descobertas e conquistas, fato bem documentado no Auto da Índia. A Ama lamenta-se que:
Partem em maio daqui
quando o sangue novo atiça.
Parece-te que é justiça?
        Tentando uma explicação para ela própria e propondo-se levar uma vida desregrada. Aliás, muitas casavam contra os seus gostos e vontade, quer por imposição dos pais, quer na ânsia de alcançar títulos nobiliárquicos. Daí a esperança que se apossava delas de que os seus "queridos" maridos por lá ficassem enterrados ou encerrados em algum cativeiro. Mas acontecia que eles acabavam por regressar, embora de mãos vazias e, por vezes, famintos; e então vinham as pragas e lamentações.
        O riso não é em Gil Vicente uma concessão à facilidade ou um meio de adoçar asperezas, ou ainda uma máscara apara incompreensão. É acima de tudo a expressão de um profundo sentido da tragédia humana. "O riso é a coisa mais séria do mundo". Por que é a exteriorização de uma dolorosa tomada de consciência diante de um mundo louco e inacabado, que teima em tomar-se a sério – como se nada mais houvera a fazer nele e por ele. Esse mundo desconcertado Gil Vicente não rejeita, mas também não aceita passivamente. É pelo caminho mais difícil – o de analisar esse mundo, recriando-o – que ele segue para compreendê-lo e dar-lhe uma nova medida.


CLASSICISMO (Renascimento)

Contexto histórico

            Desde o século XIV, a Europa preparava-se para a grande transformação política, econômica e cultural que atingiu sua plenitude nos séculos XV e XVI, assinalando o início dos tempos modernos. Esse período é conhecido como Renascimento.
            O teocentrismo medieval cede lugar ao antropocentrismo e à exaltação da natureza humana, pois o homem adquire consciência de sua capacidade realizadora: conquista, inventa, cria, descobre, produz.
            O homem do renascimento identifica na cultura greco-latina os valores da época e passa a cultuá-la. Integra a seu universo artístico os deuses da mitologia grega, com os quais mais se identifica em razão das características humanas de que são dotados. Procura compreender o mundo sob o prisma da razão, e associa ao equilíbrio entre a razão e emoção as noções de Beleza, Bem e Verdade.
            A concepção estética oriunda do Humanismo e do renascimento convencionou-se chamar Classicismo, porque clássicos eram os antigos artistas e filósofos greco-latinos dignos de serem estudados na “classes”.
            (Fonte: Novo Ensino Médio, João Domingues Maia, Editora Ática, 2000)
           
            O Humanismo já tinha revelado uma nova posição do homem diante das novas realidades sócio econômicas ocorridas nos séculos XV e XVI, quando surgiu a nova classe social denominada burguesia. Essa concepção vai se solidificar no Renascimento, nome que designa o período das grandes transformações culturais, políticas e econômicas, ocorridas nos séculos XVI e XVII.
            Essas transformações trouxeram profundas mudanças para toda a sociedade da época, o estabelecimento definitivo do capitalismo, criou novas relações de trabalho, firmou o comércio e este passou a ter grande importância, introduziu novos valores, tais como o dinheiro e a vida nas cidades, que não existiam no período medieval, várias invenções e melhoramentos técnicos foram criados em função da crescente procura de mercadorias.
            Houve uma crise religiosa pois, a Igreja teve que enfrentar os protestantes liderados por Martinho Lutero, que contava com o apoio da burguesia.
            Essa foi também a época dos grandes descobrimentos, que levaram o homem a encarar o Universo e o próprio homem de maneira diferente daquela pregada pela Igreja.
            Foi inventada a imprensa, que possibilitou uma maior circulação de escritos e portanto de cultura.
            Copérnico formulou a teoria do heliocentrismo que propunha o Sol como centro do Universo e Galileu comprovou o duplo movimento da Terra.
            Todos esses fatores levaram a velha ordem feudal a um desgaste e conseqüente desmoronamento, sendo necessária uma nova organização nos planos político, econômico e social.
            As produções artísticas desse período refletem essas profundas mudanças.
 
(Texto: Reinaldo Dias, Adaptado do livro Língua e Literatura, de Carlos Faraco e Francisco Moura, Editora Ática Vol.1 6. Ed., 1983)

Racionalismo

            O homem passa a encarar a existência de forma mais racional, abandonando os seus temores medievais.
            A razão e a liberdade de pensar, elementos incompatíveis com o pensamento medieval caracterizam a nova maneira de organizar a realidade, ou seja, os mitos pregados pela Igreja são derrubados. A idéia de que todas as coisas eram como Deus queria que fossem deu lugar a uma outra de que o homem poderia modificar com suas ações o mundo que o cercava.

Caracterização da literatura renascentista

-          Imitação dos autores greco-latinos: Homero, Ésquilo, Aristóteles (gregos), Cícero, Virgílio, Horácio (latinos).
-          Preocupação com a forma: Rigorosa exigência quanto à métrica e à rima; acentuada preocupação com a correção gramatical, com a clareza na expressão do pensamento, com o equilíbrio, a sobriedade e a lógica.
-          Construção frasal tendendo à inversão dos termos na oração e das orações no período, por influência do latim.
-          Utilização da mitologia graco-latina para efeitos artísticos, considerando-se também que as personagens mitológicas simbolizam ações, sentimentos e atitudes humanas.
-          Universalidade e impessoalidade: preocupação com as verdades eternas e universais, evitando-se o particular e o pessoal.
-          Idealismo: Apesar de objetiva, a arte clássica não era naturalista; a realidade sensível devia ser idealizada pelo artista. A mulher amada não era descrita como criatura humana, mas como um ser angelical; a natureza era vista como uma região paradisíaca.


LUÍS VAZ DE CAMÕES (1525?-1580)

            O escritor mais representativo co Classicismo português.
Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho. Em 1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido, numa rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte. Data do ano seguinte a referida Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência. Nesse mesmo ano, seguiu para a Índia. Nos anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como funcionário, pensando-se que esteve mesmo em território chinês, onde teria exercido o cargo de Provedor dos Defuntos e Ausentes, a partir de 1558. Em 1560 estava de novo em Goa, convivendo com algumas das figuras importantes do seu tempo (como o vice-rei D. Francisco Coutinho ou Garcia de Orta). Em 1569 iniciou o regresso a Lisboa. No ano seguinte, o historiador Diogo do Couto, amigo do poeta, encontrou-o em Moçambique, onde vivia na penúria. Juntamente com outros antigos companheiros, conseguiu o seu regresso a Portugal, onde desembarcou em 1570. Dois anos depois, D. Sebastião concedeu-lhe uma tença, recompensando os seus serviços no Oriente e o poema épico que entretanto publicara, Os Lusíadas. Camões morreu a 10 de Junho de 1580, ao que se diz, na miséria.
Na poesia lírica, constituída por redondilhas, sonetos, canções, odes, oitavas, tercetos, sextinas, elegias e éclogas, Camões conciliou a tradição renascentista (sob forte influência de Petrarca, no soneto) com alguns aspectos maneiristas. Noutras composições, aproveitou elementos da tradição lírica nacional, numa linha que vinha já dos trovadores e da poesia palaciana.
São suas a colectânea das Rimas (1595, obra lírica), o Auto dos Anfitriões, o Auto de Filodemo (1587), o Auto de El-Rei Seleuco (1645) e Os Lusíadas (1572)


Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Os Lusíadas
Luís Vaz de Camões

Utiliza a estrofação em Oitava Rima, inventada pelo italiano Ariosto, que consiste em estrofes de oito versos, rimadas sempre da mesma forma: abababcc. A epopéia se compõe de 1102 dessas estrofes, ou 8816 versos, todos decassílabos, divididos em 10 cantos.
DIVISÃO DA OBRA O poema se organiza tradicionalmente em cinco partes: 1. Proposição (Canto I, Estrofes 1 a 3) Apresentação da matéria a ser cantada: os feitos dos navegadores portugueses, em especial os da esquadra de Vasco da Gama e a história do povo português. 2. Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5) O poeta invoca o auxílio das musas do rio Tejo, as Tágides, que irão inspirá-lo na composição da obra. 3. Dedicatória (Canto I, Estrofes 6 a 18) O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé católica e continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo. 4. Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144) A matéria do poema em si. A viagem de Vasco da Gama e as glórias da história heróica portuguesa. 5. Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156) Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua "voz rouca" não ser ouvida com mais atenção.
NARRAÇÃO A narração consiste, portanto, na maior parte do poema. Inicia-se "In Media Res", ou seja, em plena ação. Vasco da Gama e sua frota se dirigem para o Cabo da Boa Esperança, com o intuito de alcançarem a Índia pelo mar. Auxiliados pelos deuses Vênus e Marte e perseguidos por Baco e Netuno, os heróis lusitanos passam por diversas aventuras, sempre comprovando seu valor e fazendo prevalecer sua fé cristã. Ao pararem em Melinde, ao atingirem Calicute, ou mesmo durante a viagem, os portugueses vão contando a história dos feitos heróicos de seu povo. Completada a viagem, são recompensados por Vênus com um momento de descanso e prazer na Ilha dos Amores, verdadeiro paraíso natural que em muito lembra a imagem que então se fazia do recém descoberto Brasil.
ESTRUTURA NARRATIVA O poema se estrutura através de uma narrativa principal, que apresenta a viagem da armada de Vasco da Gama. A esse fio narrativo condutor é incorporada inicialmente a narração feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde, em que conta a história de Portugal até a sua própria viagem. Na voz do Gama, ouvem-se os feitos dos heróis portugueses anteriores a ele, como Dom Nuno Álvares Pereira, o caso de amor trágico de Inês de Castro, o relato de sua própria partida, com o irado e premonitório discurso do Velho do Restelo e o episódio do Gigante Adamastor, representação mítica do Cabo da Boa Esperança. Em seguida são acrescentadas as narrativas feitas aos seus companheiros pelo marinheiro Veloso, que relata o episódio dos Doze da Inglaterra. Por fim, já na Índia, Paulo da Gama, irmão de Vasco, conta ainda outros feitos heróicos portugueses ao Catual de Calicute. A estrutura narrativa do poema é composta, portanto, por três narrativas remetendo à história de Portugal, interligadas pela narração da viagem de Vasco da Gama.
ECLETISMO RELIGIOSO O poema apresenta um ecletismo religioso bastante curioso. Mescla a mitologia greco-romana a um catolicismo fervoroso. Protegidos pelos deuses, os portugueses procuram impor aos infiéis mouros sua fé cristã. O português é visto por Camões como representante de toda a cultura ocidental, batendo-se contra o inimigo oriental, o árabe não-cristão. Todo esse fervor religioso não impede a utilização pelo poeta do erotismo de cunho pagão, como no episódio da Ilha dos Amores e seus defensores lusitanos são protegidos, ao longo de todo o poema, por uma deusa pagã, Vênus. É curioso notar que a imagem clássica do deus romano Baco (o Dioniso dos gregos), amigo do vinho e do desregramento, inimigo maior dos portugueses, é a de um ser de chifres e rabo. A mesma que foi utilizada pela igreja católica para representar o demônio.
EPISÓDIOS PRINCIPAIS Diversos são os episódios célebres de Os Lusíadas que merecem um olhar mais atento. Um deles é o da ilha dos Amores, (Canto IX, estrofes 68 a 95) em que a "Máquina do Mundo", com suas inúmeras profecias, é apresentada aos portugueses. Nessa passagem do final do poema o plano mítico - dos deuses - e o histórico - dos homens - encontram-se: os portugueses são elevados simbolicamente à condição de deuses, pois só aos últimos é permitido contemplar a "Máquina do Mundo". Foi o episódio da ilha dos Amores que inspirou o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade a compor seu poema "A Máquina do Mundo". Outro é o do Gigante Adamastor, (Canto V, estrofes 37 a 60), representação figurada do Cabo da Boa Esperança, que simboliza os perigos e tormentas enfrentados pelos navegadores lusitanos no caminho da Índia. Adamastor é o próprio Cabo, que foi transformado em rocha pelo deus Peleu, como vingança por ter seduzido sua esposa, a ninfa Tétis.

Análise do episódio: Inês de Castro
Canto III, 118 a 135
No Renascimento, o projeto de recriar os grandes gêneros da literatura greco-latina levou muitos poetas, em diversos países, a tentarem compor obras no que era considerado o gênero máximo: o épico. A epopéia (ou poema épico) é um longo poema narrativo, de estilo elevado e assunto heróico, envolvendo grandes acontecimentos do passado. Se os heróis e as façanhas são históricos ou míticos esta não é uma questão significativa para a épica antiga.
Mas era um ponto importante para Camões, que se orgulhou de estar contando em "Os Lusíadas" (1572) uma história grandiosa realmente ocorrida, verdadeira, e não falsa, inventada, como as dos heróis míticos celebrados tanto pelos gregos e romanos da Antiguidade, quanto pelos poetas de seu tempo. A estes teria faltado um tema da magnitude daquele que a história recente de Portugal oferecia a Camões: a estupenda aventura da conquista do mar e busca de terras distantes e ignoradas, que ampliaram enormemente os limites do mundo então conhecido. Com uma história dessas, com seu gênio artístico e uma extraordinária experiência de vida, Camões escreveu a melhor epopéia do Renascimento.
Nela, três histórias se superpõem e se imbricam:
1) a história da viagem de Vasco da Gama e seus marinheiros à Índia;

2) a história de Portugal, chegando até a época da viagem e antecipando acontecimentos posteriores a ela, e

3) a história dos deuses que, como forças do destino, tramam e destramam a sorte daqueles bravos portugueses que enfrentam perigos e inimigos desconhecidos para ampliar as fronteiras de seu reino e de sua religião.
Numa longa etapa da obra (cantos III-V), Vasco da Gama (herói da história 1) conta ao rei de Melinde (costa oriental da África) a história de Portugal (história 2). Entre os acontecimentos notáveis do passado português, o capitão se detém no relato dos eventos que envolveram Inês de Castro, compondo um dos mais belos episódios do poema (canto III, estrofes 118-135). Trágico conto de amor, é a história daquela "que depois de ser morta foi rainha".
O fato relatado por Camões foi registrado por cronistas da época e pode, em seus dados históricos, ser assim resumido. Dona Inês, da importantíssima família castelhana Castro, veio a Portugal como dama de companhia da princesa Constança, noiva de D. Pedro, herdeiro do rei D. Afonso 4º. O príncipe apaixonou-se loucamente pela moça, de quem teve filhos ainda em vida da princesa, sua esposa. Com a morte desta, em 1435, ter-se-ia casado clandestinamente com Inês, segundo o que ele mesmo declarou tempos depois, quando já se tornara rei. Talvez tal declaração, embora solene, fosse falsa; é fato, porém, que o príncipe rejeitou diversos casamentos, politicamente convenientes, que lhe foram propostos depois que ficou viúvo.
A ligação entre o príncipe e sua amante não foi bem vista pelo rei, que temia fosse seu filho envolvido em manobras pró-Castela da família de Pérez de Castro, pai de Inês. (Aqui é preciso lembrar que o conflito entre Portugal e Castela, ou seja, a Espanha, remonta à fundação de Portugal, que nasceu de um desmembramento do território castelhano e que Castela sempre almejou reintegrar a si.) Em conseqüência, o rei, estimulado por seus conselheiros, decidiu-se pelo assassinato de Inês, que foi degolada quando o príncipe se achava caçando fora de Coimbra, onde vivia o casal. O crime motivou um longo conflito entre o príncipe e o pai. Depois que se tornou rei, D. Pedro ordenou a exumação (desenterramento) do cadáver, para que Inês fosse coroada como rainha.
Camões, que se concentra no conflito entre o amor e os poderes perversos do mundo, não é o único nem foi o primeiro a dar tratamento literário à história de Inês de Castro, mas a sua versão paira sobre todas as outras, anteriores ou posteriores. Vários fatores concorrem para que o episódio seja dos mais admirados de "Os Lusíadas": a pungência da história, devida tanto à piedade que inspiram Inês e seus filhos, quanto ao amor constante, inconformado e revoltado de D. Pedro; a gravidade da questão envolvida, que opõe o interesse pessoal e os interesses coletivos (a "razão de Estado"), e, finalmente e sobretudo, o encanto lírico de que Camões cercou a figura de Inês, a quem atribui longo e eloqüente discurso, impondo-a como um dos grandes símbolos femininos da literatura e não só da literatura de língua portuguesa.
Prof. Rafael Sarmento Resende

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
 
Inês estava em Coimbra, sossegada, usufruindo (“colhendo doce fruito”) da felicidade ilusória (“engano da alma, ledo e cego”) e breve (“Que a Fortuna não deixa durar muito”) da juventude. Nos campos, com os belos olhos úmidos de lágrimas de amor, repetia o nome do seu amado aos montes (para cima, para o alto) e às ervas (para baixo, para o chão).
As formas "fruito" e "enxuito" são variantes de “fruto” e “enxuto”. Durante muito tempo, enquanto a Língua Portuguesa se solidificava, essas variantes foram utilizadas simultaneamente. A Língua Portuguesa acabou por definir "fruto" e "enxuto" como a forma culta.  Na época de Camões,  palavras como despois, fruito, enxuito e escuito eram as mais usadas. Ele, então, prefere estas formas para se adequar à estrutura poética de Os Lusíadas - a oitava rima -, formada por versos decassílabos (heróicos ou sáficos), e respeitar o sistema  rítmico dos versos -  abababcc. Portanto, fruito (verso 2) e enxuito (verso 6) são as rimas cabíveis a muito (verso 4). Estas formas arcaicas ainda são utilizadas em muitas regiões. 

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo c’o sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?

… decide matar Inês, para que o filho seja libertado do seu amor. O pai acredita que só o sangue da morte apagará o fogo do amor. Que fúria foi essa que fez com que a espada cortante que afrontara o poder dos Mouros fosse levantada contra uma frágil e indefesa mulher?
 
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Do mesmo modo agem os cruéis assassinos de Inês. No pescoço (“colo”) que sustenta o belo rosto (“as obras”: o sorriso, o olhar, os movimentos do rosto) pelo qual se apaixonou (o deus Amor, Cupido, fez morrer de paixão) o príncipe, que depois a fará rainha, eles (os matadores) banham, lavam suas espadas e também as faces pálidas (“brancas flores”) e molhadas de lágrimas de Inês;  atacavam enraivecidos, sem pensarem no castigo que o futuro lhes reservava.
Camões supõe que Inês foi degolada, como Policena oferecendo o pescoço ao golpe, e o sangue escorreu sobre seu rosto.

   Velho do Restelo
Velho do Restelo é uma personagem criada por Luís de Camões no canto IV da sua obra Os Lusíadas. O Velho do Restelo simboliza os pessimistas, os conservadores e os reacionários que não acreditavam no sucesso da epopéia dos descobrimentos portugueses, e surge na largada da primeira expedição para a Índia com avisos sobre a odisséia que estaria prestes a acontecer:
94
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!

97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Os Lusíadas, Canto IV, 94-97

BARROCO
Contexto histórico
            No século XVII a Europa estava vivendo em meio a profundas crises de ordem política, econômica e social.
            A cultura do capitalismo desenvolveu-se por meio do comércio e a classe burguesa estava firmada no poder, terminava o ciclo das grandes navegações, os povos portugueses estavam pessimistas pois, estavam sendo dominados pelo povo espanhol desde 1580, a reforma protestante, liderada por Calvino e Lutero havia se solidificado na Inglaterra e na Espanha, como conseqüência da Reforma protestante, a Igreja estava dividida, uma parte de seus membros adotava o protestantismo e o defendia, os membros católicos da Igreja organizaram então um movimento chamado de Contra-Reforma  que combatia com severidade os protestantes e se concentrou principalmente em Portugal e na Espanha.
            Esse movimento da Igreja Católica pregava uma profunda reação àquela visão antropocentrista do mundo cristalizada no Renascimento e propunha o retorno ao velho medieval onde o povo deveria se subjugar à Igreja e ao poder absoluto do Rei.
            O retorno à visão medieval do mundo pregado pela Igreja, implicou na perda de humanidade conquistado pelo homem no Renascimento, à partir de então, duas forças passaram a se opor: o antropocentrismo e o teocentrismo.
            O embate entre essas forças, ( de um lado o antropocentrismo, que coloca o homem em primeiro plano e senhor do seu destino; e de outro o teocentrismo, que afirma que o homem não tem poder sobre si e que tudo está nas mãos de Deus.), criou uma tensão no homem dessa época, a dúvida e a incerteza passam a conviver dentro dele no lugar das certezas e afirmações do período do Renascimento e isso se reflete nas artes. A esse período de incertezas e dúvidas dá-se o nome de Barroco.

Texto: Reinaldo Dias, Adaptado do livro Língua e Literatura
          Autores: Carlos Faraco e Francisco Moura, Editora Ática Vol.1 6. Ed., 1983

BARROCO NO BRASIL (1601-1768)
 
A literatura barroca no Brasil teve seu início no ano de 1601, com a publicação do poema épico Prosopopéia de Bento Teixeira Pinto.

Nesse período, as manifestações culturais no Brasil serão reflexo de uma estrutura social, política e econômica de país-colônia.

O Brasil ainda não tem uma sociedade bem estruturada e conseqüentemente, as manifestações literárias não chegam a constituir um bloco bem delineado, ou seja, não apresentam uma única direção literária, mas sim, apresentam várias diversificações.
 


PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS

·      Bento Teixeira (1565- ? ) - Sua obra mais importante é a tentativa do poema épico Prosopopéia, inspirada na obra Os Lusíadas de Camões;
·      Manoel Botelho de Oliveira (1636-1711) - Escreveu o poema Música de Parnaso;
·      Frei Manoel de Santa Maria Itaparica ( 1704- ? ) - Sua obra mais importante é a Ilha de Itaparica;
·      Padre Antônio Vieira
·      Gregório de Matos (Brasil   1623-1696) - É o mais importante dos barrocos brasileiros.
Advogado baiano foi apelidado de “Boca do Inferno”, graças a sua irreverência ao criticar a sociedade da época. Gregório de Matos escreveu:  a)   poesia lírica; b)   poesia religiosa; c)    poesia satírica.

Lírica

À mesma D. Ângela

“Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:”
 
Religiosa

“Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
da vossa alta piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenha a perdoar mais empenhado.”
 
Satírica
“...........................................................
Que os Brasileiros são Bestas;
e estão sempre a trabalhar
toda a vida, por manter
Maganos em Portugal.
 
Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar;
que aqui honram os Mofinos,
e mofam os Liberais ..

Principais Características do Barroco  
 
 São usados também Símbolos que traduzem a efemeridade e instabilidade das coisas tais como: fumaça vento, neve, chama, água, espuma, etc.
 
“Entre essas ondas claras, duvidosas,
Levai ao largo mar, com turva vela,
Tristes queixumes, lágrimas queixosas”  Francisco Rodrigues Lobo
 
As Frases Interrogativas são usadas para refletir a dúvida e a incerteza do homem barroco.
 
“Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se tão formosa a Luz é, por que não dura?”  Gregório de Matos
   
Ordem inversa - Além de tornar a frase pomposa, a ordem inversa traduz pequenas partes de raciocínio. Refletindo a falta de clareza diante das coisas e a insegurança dos homens dessa época onde as duas vertentes ( Antropocentrismo X Teocentrismo ) estão agindo dentro das pessoas deixando seus pensamentos divididos.
 
“Se aparta do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte
Se ausente d’alma estou, que me dá a vida?”  Violante do Céu
 
Cultismo - É o jogo de palavras, o uso abusivo de metáforas e hipérboles.
Corresponde ao excesso de detalhes das artes plásticas.
Os detalhes são usados nesse período devido a própria incerteza de que o homem está possuído, ele busca com a exposição de detalhes deixar claro para o observador tudo o que se passa em seu interior (espiritual).
As contradições que estão no íntimo de cada artista dessa época, praticamente forçam o mesmo a ser minucioso em suas criações na tentativa de explicar seus sentimentos.
 
“Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho ...”       Gregório de Matos
 
Conceptismo -  é o jogo de idéias.
 
“Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz.
Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos;
se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz.
Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos.”      Padre Antônio Vieira
 
Principais temas:

Os principais temas da literatura barroca giram em torno da idéia de:

a) sobrenatural;
b) morte;
c) fugacidade da vida e ilusão;
d) castigo;
e) heroísmo;
f)  misticismo;
g) erotismo;
h) cenas trágicas;
i)  apelo à religião, ao céu;
j)  arrependimento;
k) sedução do mundo.
COMUNICAÇÃO
Um homem entrou numa loja mas esqueceu o nome do que queria comprar, ficou tentando descrever o objeto ao vendedor. Descreveu de diversas formas, confundindo cada vez mais o vendedor. Se o homem soubesse desenhar, o problema seria facilmente resolvido. Nesse caso, ele estaria utilizando um outro código: o desenho.
Código é todo conjunto organizado de sinais utilizado na comunicação.
Os diversos códigos de que o homem dispõe para se comunicar constituem a linguagem. Os diversos códigos que o homem dispõe para se comunicar formam a Linguagem.
Linguagem é todo sistema de sinais que serve como meio de comunicação entre os indivíduos.
Existem dois tipos de Linguagem: Verbal - Código que utiliza a linguagem falada ou escrita (crônica, rádio, etc.). Não-Verbal - Qualquer código que não utilize a palavra (quadro, dança, gestos, etc.).
Todas as mensagens utilizam a linguagem verbal, no entanto, os emissores das mensagens utilizam-se de línguas diferentes de acordo com sua nacionalidade.
Língua é a linguagem verbal utilizada por um grupo de indivíduos.
A utilização particular e individual do código lingüístico dá-se o nome de fala.
Fala é a utilização individual da língua.
Funções da Linguagem
Função Referencial ou Denotativa - é aquela que traduz a realidade exterior ao emissor. Ex.: os jornais sempre utilizam esse tipo de linguagem pois, relatam fatos verdadeiros, os livros didáticos, de história, geografia, etc., também usam essa mesma linguagem.
Função Emotiva ou Expressiva - é aquela que traduz opiniões ou emoções do emissor. Essa linguagem se caracteriza quando alguém expressa sua opinião sobre determinado assunto. Ex.: "Eu acho que aquele rapaz não está passando bem, parece que está com febre".
Função Fática - é aquela que tem por objetivo prolongar o contato com o receptor ou iniciar uma conversa, caracteriza-se pela repetição de termos. Ex.: "O que você acha dos políticos? - Olha, no meu ponto de vista, sabe, eu acho que,...bem...como eu estava dizendo, os políticos, sabe como é né? É isso aí".
Função Conativa ou Apelativa - é aquela que tem por objetivo influir no comportamento do receptor, por meio de um apelo ou ordem. As propagandas veiculadas na televisão são um bom exemplo desse tipo de linguagem. Ex.: "Compre o sabão espumante, que borbulha melhor do que qualquer outro!".
São características dessa função: verbos no imperativo, presença de vocativos; pronomes de segunda pessoa.
Função Metalingüística - é aquela que utiliza o código para explicar o próprio código. Um bom exemplo dessa função são os dicionários da língua portuguesa.
Função Poética - é aquela que enfatiza a elaboração da mensagem de modo a ressaltar o seu significado. Ao utilizar essa função o autor se preocupa com rimas e comparações bem escolhidas, dando importância fundamental à maneira de estruturar a mensagem. Embora seja mais comum em poesia, essa função pode aparecer em qualquer tipo de mensagem lingüística. Ex.: "sua alma sua palma" (provérbio), Gilberto Gil (nome de artista).

Resumo das funções de linguagem


Funções Predominantes
Finalidade
Recursos
a) Referencial ou denotativa
transmitir informações
Frase declarativa:
comunicação impessoal e objetiva
b) Emotiva ou expressiva
exprimir sentimentos e emoções
Frase exclamativa:
comunicação pessoal e subjetiva; uso de recursos como: interjeições, superlativos, aumentativos, diminutivos, hipérboles, figuras, entonação etc.
c) Apelativa ou conativa
influenciar, persuadir o receptor
Frase imperativa:
comunicação indutora, convincente, decidida.
d) Fática ou de contato
gerar, sustentar, favorecer e facilitar a comunicação
Frase breve, exata, clara, de fácil compreensão.
e) Metalinguística
definir, explicar, analisar, criticar o código linguístico
Explicações, definições, conceituações.
f) Poética
valorizar a elaboração da linguagem como meio de expressão
Frases de valor artístico, com o predomínio da conotação, figuras de linguagem e musicalidade.
Significante e Significado
A lingüística, além da parte sonora, está carregada de um significado, uma idéia. Portanto, o signo lingüístico constitui-se de duas partes: o Significante que é o lado material (os sons da língua falada ou as letras na língua escrita), e o Significado que é o lado imaterial, ou seja, a idéia que é transmitida pelos fonemas (sons ou pelas letras).
a) "Comprei um geladeira nova!"
b) "Minha namorada está uma geladeira comigo!"
Note que o mesmo signo (geladeira) tem dois significados diferentes dependendo do contexto em que aparece, na frase a, geladeira significa um móvel destinado a manter seu interior em baixa temperatura, na frase b, geladeira pode significar frieza, desprezo, ausência de sentimentos. Deduzimos então, que o significante geladeira tem mais de um significado. No caso a, o signo está empregado em sentido denotativo.
Denotação - consiste em utilizar o signo no seu sentido próprio e único, não permite outra interpretação.
No caso b, a palavra está empregada em sentido conotativo, porque ao signo foi atribuído um novo significado.
Conotação - consiste em dar novos significados ao valor denotativo do signo. O valor denotativo ou conotativo do signo depende do contexto em que este signo se encontra. Ex1: João da Silva é negro. Ex2: Seu futuro será negro.
Sinomínia - Propriedade de duas ou mais formas lingüísticas apresentarem o mesmo significado:
Exemplos: coragem/destemor; ligeiro/lépido/rápido/veloz; tolo/bobo
Obs.: Não existe sinomínia perfeita, já que dificilmente um vocábulo substitui outro com perfeita equivalência de sentido. Quando dizemos que, alguém apresentou uma dúvida tola, não corresponde ao mesmo que dizer que, alguém apresentou uma dúvida boba. A palavra boba neste caso teria uma conotação mais vulgar.
 
Polissemia - Propriedade que uma mesma palavra tem de assumir vários significados dependendo do contexto em que ela ocorre. veja os exemplos que seguem:
 
Não para comparar água com vinho. (ser possível)
Quem aos pobres, empresta a Deus. (fazer doação de algo)
pena de ver o estado daquele homem. (provocar)
Deu com a cara na porta. (bater)
Ela deu uma boa explicação. (apresentar)
 
Reinaldo Dias -   Adaptado do livro Língua e Literatura - aa. Carlos Faraco e Francisco Moura - Editora Ática



FIGURAS DE LINGUAGEM

Comparação Simples:

É a comparação entre dois elementos de um mesmo universo.
Exemplo: - Esse carro é tão veloz como aquele avião.

Comparação por Símile

É a comparação entre dois elementos de universos diferentes.
Exemplos:
- Meu pai é bravo como um leão.
- Aquela mulher tem a voz suave como a de um pássaro.

Metáfora
É uma comparação direta, um termo substitui outro pela semelhança que é resultado da imaginação.
Todo emprego de palavra fora do seu sentido normal, por efeito da analogia, constitui uma metáfora.
 Exemplos:
- Esse homem é uma fera!
- A vida é uma cartola de mágico.
- No calor da discussão, trocaram ofensas.
- Minha namorada é uma gata.

Catacrese
É o emprego impróprio de uma palavra ou expressão por falta de outra no nosso vocabulário.
            Exemplos:
- Boca da garrafa
- Embarcarei no avião das onze horas. (embarcar = tomar barca)
- Comprei uma ferradura de prata. (ferradura = peça de ferro)
- Eu ganho uma mesada semanal. (mesada = pagamento por mês)
- Gosto de azulejo amarelo (azulejo = azul)
- Enterrei uma agulha no dedo (enterrar = pôr debaixo da terra)

Sinestesia
É uma figura que resulta da fusão de sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
                        Exemplos:
- Comia o sabor vermelho da fruta.
                             (sabor = gosto, paladar) (vermelho = visão)
                          - Um áspero sabor de indiferença.
   (áspero = tato) (sabor = paladar)
- A luz crua da manhã me invadia.
  (luz = visão) (crua = paladar)

Antonomásia
É a substituição de um nome próprio de pessoas por um outro que tenha relação com suas ações, qualidades e características.
            Exemplos:
- A rainha dos baixinhos = Xuxa
- O rei do futebol = Pelé
- O Criador = Deus
- O poeta dos escravos = Castro Alves
- A águia de Haia = Rui Barbosa

Sinédoque
É a substituição de um termo por outro, em que os sentidos destes termos têm uma relação de extensão desigual (ampliação ou redução). Os casos são:
 1- A parte pelo todo ou vice-versa
Exemplos:
a)     Aquele homem tem mil cabeças de gado.
cabeça = parte do boi
b)    Aquela madame veste um urso.
urso = todo
pele de urso = parte

 2- Gênero pela espécie ou vice-versa
Exemplos:
a) Os mortais pensam e sofrem.
mortais = homens
c)     A estação das rosas chegou.
estação das rosas = primavera

 3 - Singular pelo plural ou vice-versa
Exemplos:

a) O brasileiro é romântico.
brasileiro = todos os brasileiros
b) As chuvas chegaram.
chuvas (plural) = tempo de chuva (singular)

 4 - O determinado pelo indeterminado
Exemplo:

a)     Ele fez mil perguntas.
mil = indeterminado

 5 - A matéria pelo objeto
Exemplo:

a)     O bronze soa chamando para a missa.
bronze = matéria de que é feito o sino

 6 - O indivíduo pela classe
Exemplo:

a)     Ele é o Judas da turma.
Judas = classe dos traidores

Metonímia
É a substituição de um nome por outro, havendo entre eles algum relacionamento de semelhança.

Os casos são:

1 - O autor pela obra
Exemplos:
a) Gosto de ler Jorge Amado.
b) Estou escutando Beatles.
2 - Causa pelo efeito ou vice-versa
Exemplos:
a) Sou alérgico a cigarro.     efeito = fumaça    causa = cigarro
b) Eles ganham a vida com suor.   causa = trabalho   efeito = suor
3 - O continente pelo conteúdo ou vice-versa
Exemplos:
a) Bebi duas caixas de leite.   continente = caixas   conteúdo = leite
b) Passem-me a manteiga. (manteigueira)    conteúdo = manteiga   continente = manteigueira
 4 - O lugar pelo produto
Exemplo:
Vamos tomar champanha.  (Vinho produzido em Champanha (França))
 5 - O inventor pelo invento
Exemplo:
Vou comprar um Ford.  (Ford foi o inventor do carro)
6 - O concreto pelo abstrato ou vice-versa
Exemplos:
a) Este aluno tem ótima cabeça.   abstrato = inteligência   concreto = cabeça
b) A juventude brasileira é maravilhosa.   abstrato = juventude   concreto = pessoas jovens
 7 - Símbolo pela coisa simbolizada
Exemplos:
a) Ele carrega a cruz.     cruz = símbolo do cristianismo
b) O rei perdeu a coroa.     coroa = símbolo do poder, da realeza
c) Aquele homem não tira os chinelos.     chinelos = símbolo da preguiça

 Onomatopéia
É a figura que reproduz os sons da natureza por meio de palavras. 
Exemplos:
- O tique-taque do meu coração...
- O zum-zum-zum das crianças no prédio...
                                   Outros exemplos: cricri, reco-reco, bem-te-vi, tchibum!, pum! pum!         

FIGURAS DE PENSAMENTO

Antítese
Consiste na oposição entre duas palavras ou idéias, geralmente na mesma frase.
                        Exemplos:
- Nunca dois iguais foram tão diferentes.
- A casa que ele fazia
 Sendo a sua liberdade
 Era sua escravidão
 (Vinícius de Morais)

-"Nasce o sol e não dura mais que um dia.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria..."
Paradoxo
    É o encontro de idéias com sentidos opostos. São pensamentos que se contradizem formando um só núcleo de expressão, diferenciando-se desta forma da antítese.
 Exemplo:
"Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer..."
(Camões)
Ironia
    Consiste em sugerir, pela entonação, o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir.
            Exemplos:
- Como ele está apaixonado!!
- O ministro foi sutil como uma jamanta e fino como um hipopótamo...
Perífrase
É a figura que consiste em exprimir por várias palavras aquilo que se diria em poucas ou em uma palavra. Torna-se, portanto, uma referência indireta.
            Exemplos:
- A pátria de Voltaire está em guerra. (A França está em guerra.)
- O oxigênio do globo terrestre está terminando.

Outros Exemplos
- A cidade da luz = Paris
- O país do sol nascente = Japão
- A eterna cidade = Roma
- A cidade maravilhosa = Rio de Janeiro
Eufemismo
É a atenuação ou suavização de idéias consideradas desagradáveis, cruéis, imorais, obscenas ou ofensivas.
            Exemplos:
- Ele entregou a alma a Deus. (Em lugar de: Ele morreu)
-Nos fizeram varrer calçadas, limpar o que faz todo o cão... (Em lugar de fezes)
- Ela é minha ajudante (Em lugar de empregada doméstica)
- "...Trata-se de um usurpador do bem alheio..." (Em lugar de ladrão)
Hipérbole
            Consiste no exagero de uma idéia.
            Exemplos:
- Eu já lhe disse um bilhão de vezes para não exagerar quando falar!
- Este anel deve ter custado os olhos da cara.
- Quase morri de estudar!
Gradação
Consiste numa sequência de palavras, sinônimas ou não, que intensificam uma mesma idéia. Pode ser da menos intensa para a mais intensa e vice-versa.
                        Exemplos:
- O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se.
(Padre Vieira)

- Ele chorou, berrou, esperneou
Prosopopéia
    Consiste em atribuir linguagem, sentimentos e ações de seres humanos a seres inanimados ou irracionais.
Exemplos:
- O galo cantou às quatro da manhã... (Cantar é humano)
- O Morro dos Ventos Uivantes... (Os ventos não uivam)  
A estrela d ‘alva
no céu desponta
E a lua anda tonta
com tamanho esplendor...
- Em um belo céu de anil,
os urubus, fazendo ronda,
discutem, em mesa redonda,
os destinos do Brasil.
 - O longo braço do Sol impele os ventos
Apóstrofe
Consiste no chamamento ou interpelação a uma pessoa ou coisa que pode ser real ou imaginária, pode estar presente ou ausente; usada para dar ênfase.
            Exemplos:
Ó mar salgado,
quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Deus! Deus! Onde estás que não respondes?

FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

Elipse
É a omissão de um termo ou de uma oração inteira que já foi dita ou escrita antes, sendo que esta omissão fica subentendida pelo contexto.
            Exemplos:
- Sobre a mesa, apenas uma garrafa. (omissão do verbo haver.)
- Esta garota veio sem pinturas, uma saia rosa, um moletom, sapatos vermelhos. (omissão da palavra com.)

Curiosidade: Em diálogos também é usual a elipse: na bilheteria de um teatro, apenas perguntamos "- Quanto custa?". O contexto, a situação em que foi feita a pergunta leva-nos ao termo omitido - "a entrada".

Zeugma
É um caso específico da elipse. Ocorre quando o termo omitido já tiver sido expresso anteriormente.
            Exemplos:
O mar é lago sereno
O céu, manto azulado

(Casimiro de Abreu)  (omissão no 2º verso do verbo ser.)

- Precisarei de vários ajudantes. De um que pinte a parede e de outros que tomem conta das refeições. (houve zeugma do termo ajudante e ajudantes)
- Você me corta um verso, eu escrevo outro.
(zeugma do termo verso: "eu escrevo outro verso.")
Polissíndeto
É a repetição expressiva da conjunção coordenativa. Todo uso repetido da conjunção e constitui um polissíndeto.
            Exemplos:
Vão chegando as burguesinhas pobres,
e as crianças das burguesinhas ricas,
e as mulheres do povo, e as lavadeiras
(Manuel Bandeira)
E o menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e maltrata, e abusa de toda paciência nossa deste mundo!
Assíndeto
É a inexistência de conectivo (conjunção) para criar um efeito de nivelamento e simultaneidade entre os detalhes apreendidos.
Toda omissão da conjunção e constitui um assíndeto.
            Exemplos:
- Não sopra o vento; não gemem as vagas; não murmuram os rios.
- O musicista foi ao clube, tocou seu instrumento, agradou, foi embora.
Pleonasmo
É uma repetição que envolve uma redundância, isto é, repetição desnecessária que ocorre para dar ênfase.

Exemplos:
- Estou vendo terra com meus próprios olhos!!!
- A mim ninguém me engana.
Observação: O pleonasmo vicioso ("entrar para dentro", "subir para cima") é um defeito de linguagem.
-          Fomos, vimos o lugar, comentamos com o porteiro, saímos sem dizer nada.

Inversão ou Hipérbato
É a inversão da ordem natural e direta dos termos da oração.
            Exemplos:
- Dança, à noite, o casal de apaixonados no clube.
         Ordem direta: O casal de apaixonados dança no clube à noite.
- Aves, Desisti de ter!
         Ordem direta: Desisti de ter aves!
Toda falta de nexo sintático entre o princípio da frase e o seu fim provoca um anacoluto. Ocorre geralmente quando o sujeito fica sem predicado e quando se usa um verbo no infinitivo, com sua repetição no meio da frase.
            Exemplos:
- Eu parece que estou ficando zonzo.

- Morrer, todo o mundo vai morrer.


Anáfora
É a repetição de termos no início de cada verso ou frases.
            Exemplos:
-          "Era a mais cruel das cenas. Era a mais cruel das situações. Era a mais cruel das missões..."

Silepse

É uma figura de sintaxe e ocorre quando a concordância é feita pelo sentido e não pela forma gramatical, como a própria etimologia da palavra explica.
Podemos ter silepse de número, de gênero e de pessoa.
a) Silepse de número: O caso mais comum ocorre quando o sujeito é um coletivo ou uma palavra que, apesar de estar no singular, indica mais de um ser.
Exemplos:
- "O povo lhe pediram que se chamasse Regedor." (Fernão Lopes)
povo = singular
pediram = plural
- "...e o casal esqueceram que havia mundo." (Mário de Andrade)
casal = singular
esqueceram = plural
- O quarteto cantaram velhos sucessos.
quarteto = singular
cantaram = plural
b) Silepse de gênero: Os casos mais comuns são os de predicativos que concordam com a idéia que está implícita, e não com a forma gramatical.
Exemplos:
- São Paulo é muito fria. (fria concorda com a palavra cidade)
- Fulano é um criança.
  Fulano = masculino
  criança = feminino
- Vossa Alteza é muito bondoso.
  Vossa Alteza = feminino
  bondoso = masculino
            c) Silepse de pessoa: Ocorre principalmente quando o sujeito expresso aparece na terceira pessoa e o verbo na primeira pessoa do plural; a idéia é que o narrador integra o sujeito.
Exemplos:
- Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins público.
cariocas = 3ª pessoa
somos = 1ª pessoa
- Os jogadores somos incompetentes
jogadores = 3ª pessoa
somos = 1ª pessoa
Assonância
É a repetição de vogais na mesma frase.
            Exemplo:
- "Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral"        (Caetano Veloso  - Araçá Azul)
Aliteração
É toda repetição de consoantes ou de sílabas em um verso ou uma frase.

Exemplos:
- O rato roeu a roupa da rainha rapidamente, Roque?
- Vozes veladas, veludosas vozes, vórtices vorazes...


PLURAL DOS SUBSTANTIVOS COMPOSTOS
 
Muita gente se "embaraça" na hora de passar os substantivos compostos para o plural e não é para menos, quem não sabe as regras se complica mesmo. Os testes, por sua vez, sempre trazem uma ou outra questão sobre esse tema, daí a necessidade de estuda-lo.
Alerto no entanto que, devido a diversidade dos substantivos compostos existentes, além de estudar as regras, uma boa dica de fixação é a leitura constante de livros, revistas, jornais, etc. 
 
1-PRIMEIRO CASO.
(Substantivo + Substantivo)
Os dois elementos vão para o plural.
Veja exemplos:
couve-flor = couves-flores (Substantivo + Substantivo)
homem-rã = homens-rãs (Substantivo + Substantivo)
No caso acima, todos os termos são substantivos, portanto, todos vão para o plural.

Atenção: nos casos em que o segundo substantivo indica característica do primeiro, não é obrigatório passar o segundo termo para o plural.
Veja:
Comi uma banana-maçã.
Comi duas bananas-maçã. (é correto pluralizar só o primeiro termo)
Comi duas bananas-maçãs. (também é correto pluralizar os dois termos)
As duas formas do plural estão corretas.
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2-SEGUNDO CASO.
(Dois Substantivos ligados por preposição)
Somente o primeiro termo irá para o plural.
Veja os exemplos abaixo:
estrada de ferro = estradas de ferro (Subst.+ preposição + Subst.)
pé de moleque = pés de moleque (Subst.+ preposição + Subst.)
Nos casos apresentados acima, o fato de os substantivos receberem uma preposição (de) como elo de ligação entre si, permite que apenas o primeiro termo vá para o plural.
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3-TERCEIRO CASO
(Substantivo + Adjetivo ou Adjetivo + Substantivo)
Os dois elementos vão para o plural.
cartão-postal = cartões-postais (Subst. + Adjetivo)
má-língua = más-línguas (Adjetivo + Subst.)
No primeiro exemplo temos o substantivo CARTÃO + o Adjetivo POSTAL e no segundo, temos o Adjetivo + o substantivo LÍNGUA. Todos vão para o plural.
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4- QUARTO CASO
(Verbo + Substantivo)
Somente o segundo elemento irá para o plural.
vira-lata = vira latas (Verbo + Substantivo)
beija-flor = beija-flores (Verbo + Substantivo)
Sempre que o primeiro termo for um verbo, somente o segundo passará para o plural.
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5- QUINTO CASO
(Palavra invariável + Palavra variável) - Veja Classes de palavras
Só o adjetivo vai para o plural.
Veja este exemplo:
sempre-viva = sempre-vivas (Invariável + Variável)
Nesse caso o substantivo composto é formado pelo Advérbio, (palavra invariável) SEMPRE + o Adjetivo (e portanto variável), VIVA. Lembre-se, as palavras invariáveis não flexionam. Se você ainda não leu o texto que trata das classes de palavras, então leia e "fique por dentro".
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6- SEXTO CASO
(Palavras repetidas)
Apenas o segundo termo vai para o plural.
Veja o exemplo:
o pula-pula = os pula-pulas
o tico-tico = os tico-ticos
Nas palavras formadas por termos repetidos só o segundo passa para o plural.
7- SÉTIMO CASO
(substantivos compostos formados com o uso da palavra GUARDA)
Quando a palavra GUARDA for usada no sentido verbal, utilizamos a regra descrita no QUARTO CASO desta página. Veja:
guarda-roupa = guarda-roupas (verbo+substantivo)
guarda-pó = guarda-pós (verbo+substantivo)
guarda-chuva = guarda-chuvas (verbo+substantivo)
Nesses casos a palavra (guarda) está sendo utilizada como verbo, no sentido de guardar algo. Aplicando a regra do quarto caso, temos que, somente o Substantivo passa para o plural.
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Nos casos em que a palavra GUARDA é usada no sentido de Substantivo aplicamos a regra do TERCEIRO CASO descrito acima, pois, o segundo termo vira adjetivo do primeiro. Veja:
guarda-noturno = guardas-noturnos (Substantivo + Adjetivo)
guarda-florestal = guardas-florestais (Substantivo + Adjetivo)
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Dica legal.
GUARDA é substantivo quando se refere a pessoas e profissões.
GUARDA é adjetivo quando se refere a móveis ou objetos.
  .
Texto Reinaldo Dias - Referências bibliográficas Livros: Texto e Contexto – Editora EB S/A - 1998 - AA.: Lídio Tesoto / Norma Discini, Língua e Literatura - Ed. Ática -1983- AA.: Carlos Faraco / Francisco Moura
CD-ROM's
Nossa Língua Portuguesa / Enciclopédia Abril 2000


O USO DOS PORQUÊS
Por que porque, porquê e porquês, por quê?
Por quê (separado e com acento) só pode ocorrer em final de frase interrogativa, direta ou indireta:
·         Interrogação direta: Marcos não veio à reunião, por quê?
·         Interrogação indireta: Marcos não veio à reunião, ninguém sabe por quê.
·         Obs.: Para ter certeza de que se trata de interrogação indireta, basta subentender a palavra motivo após o por quê: Marcos não veio à reunião, ninguém sabe por quê (motivo).
Por que (separado e sem acento) ocorre em duas situações:
1.     Em início de interrogação, direta ou indireta:
o    Direta: Por que Marcos não veio à reunião?
o    Indireta: Ninguém sabe por que Marcos não veio à reunião.
2.     Quando pode ser substituído por pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais: Desconhece-se a razão por que (pela qual) Marcos não veio.
Porquê / Porquês (junto e com acento) é a forma correta quando se trata de substantivo. É de fácil identificação, porque vem precedido sempre de artigo (o, a, os, as, da, das, do, das, na, nas, no, nos, etc.), pronome demonstrativo (este, estes), ou adjetivo:
Desconhece-se o porquê da ausência de Marcos.
O estudo dos porquês é interessante.
Os estudantes se defrontam com muitos porquês.
Porque (junto e sem acento) é a forma correta para os casos que não se enquadram nos demais, ou seja, não sendo nenhum dos casos anteriores, grafa-se porque: Marcos não veio porque estava doente.

Há / A
1.     Usa-se para indicar tempo passado e nos sentidos de existir, ocorrer: muito tempo acontecem esses fatos. muita polêmica em torno do assunto.
2.     Utiliza-se a:
1.     Para indicar tempo futuro: Daqui a algum tempo saberemos a verdade. Daqui a pouco iniciará o jogo.
2.     Para indicar distância: Isso ocorreu a cem metros da minha casa.
ACENTUAÇÃO GRÀFICA
1.     Em português, com exceção do til (~) e dos casos de crase, o acento gráfico só pode ocorrer na sílaba tônica das palavras, que são as destacadas nos exemplos a seguir: ca-FÉ, ca-fe-ZI-nho, e-co-NÔ-mi-co, e-co-no-MI-a, se-cre-TÁ-ria, se-cre-ta-RI-a. Portanto, a identificação da sílaba tônica da palavra deve preceder a aplicação das regras de acentuação.
2.     As regras só se aplicam às palavras da língua portuguesa e às devidamente aportuguesadas.
3.     Apesar de podermos memorizar muitas formas corretas, a única maneira de se aprender acentuação com segurança é aplicando as regras.
Regras de Acentuação
·         Todas as palavras proparoxítonas (que têm o acento tônico na antepenúltima sílaba) são acentuadas: árvore, lâmpada, déficit, esplêndido.
·         Independentemente de ocorrerem em palavras proparoxítonas ou não, os ditongos ÉI, ÉU e ÓI, sempre que tiferem pronúncia aberta (Éi e não ÊI), são acentuados: anéis, chapéu, dói. Cuidado: a forma verbal apóio (eu) é acentuada, mas o substantivo apoio não, porque a pronúncia é fechada.
·         Os encontros EE e OO são acentuados sempre que a primeira das vogais for tônica: crêem, lêem, abençôo, vôo. Quanto a tônica for a segunda vogal, ou, é claro, nenhuma delas, não ocorre o acento: voou, abençoou, compreensão, apreenderam.
·         Acentuam-se as palavras paroxítonas(que têm o acento tônico na penúltima sílaba) terminadas em:
o    ditongo crescente: sério, ânsia, Mário, mágoa, espontâneo;
o    ão, ãos, ã, ãs: órfão, órfãos, órfã, órfãs;
o    i, is: júri, júris, lápis, jóquei, jóqueis, amáveis, quisésseis;
o    on, ons: próton, prótons, nêutron, nêutrons;
o    um, uns, us: álbum, álbuns, bônus, Vênus;
o    l, n, r, x, ps, t, ts: amável, hífen, revólver, Félix, bíceps, superávit(s).
o    Obs.: Palavras como jovens, hifens (ao contrário do que diz o corretor do Word), itens, item não se acentuam.
·         As palavras oxítonas e os monossílabos tônicos acentuados são os que terminam em:
o    a, e, o, seguidos ou não de s: , vatapá, , café, , cipó, avô, pôs, você, vocês, mês, três.
o    ém, éns, excluindo-se os monossílabos: armazém, armazéns, alguém, também, parabéns; mas: tem (ele), tens, vem (ele), vens;
o    êm, na terceira pessoal do plural dos verbos: têm (eles), vêm (eles), detêm (eles), provêm (eles).
o    Obs.: Pela regra, as formas tem e vem não deveriam ser acentuadas, mas como teríamos formas iguais para singular e plural, acentuam-se as terceiras pessoas do plural: (eles) têm, vêm. Com relação aos derivados dos verbos ter e vir (deter, conter, advir, convir, etc.), pela regra, o acento ocorre obrigatoriamente, mesmo no singular. Distingue-se o plural do singular mudando o acento de agudo para circunflexo: ele detém / eles detêm; ele advém / eles advêm.
·         Acento nas vogais i e u: Para serem acentuadas, as vogais I e U precisam preencher as seguintes condições: a) ser tônicas; b) ser precedidas de vogal; c) formar sílaba sozinhas ou com S:  aí, caí, juízes, caído, Luís, incluí-lo, caíste, baú, saúde, gaúcho, balaústre. Basta falhar uma dessas condições para não mais haver acento: vai, cai, juiz, caindo, Luiz, demiti-lo, transeunte.
Acentos Diferenciais
Há palavras que continua, sendo acentuadas para diferenciar de outras de grafia igual, mas de pronúncia diferente:
1.     côa, côas (do verbo coar);
2.     pára (do verbo parar);
3.     pélo, pélas, péla (do verbo pelar);
4.     pêlo, pêlos (cabelo, penugem);
5.     pêra (fruta), péra (pedra);
6.     pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo poder - para diferenciar de pode, terceira pessoa do singular do presente do indicativo);
7.     pólo, pólos (jogo, extremidade), pôlo, pôlos (filhote de gavião), póla, pólas (pancadaria), pôla, pôlas (ramo ou rebento de árvore);
8.     pôr (verbo, para diferenciar da preposição por).
Trema
Nos grupos GUE, GUI, QUE e QUI, podem ocorrer três situações:
1.     O U não ser pronunciado; neste caso nada se coloca sobre ele (nem trema nem acento): quente, coqueiro, guerra, distinguir.
2.     O U é átono, mas pronunciado: coloca-se trema sobre ele: delinqüente, argüição, agüentar, delinqüir.
3.     O U não só é pronunciado, como é tônico; usa-se acento em vez de trema: argúi, averigúe, obliqúes.
Obs.: Fora dos grupos GUE, GUI, QUE e QUI nada disso acontece, ou seja, não se aplica a regra do trema: oblíquo, ambíguo, apaziguar.
Dicas
·         São palavras oxítonas, entre outras: cateter, mister, Nobel, novel, ruim, sutil, transistor, ureter.
·         São palavras paroxítonas, entre outras: avaro, aziago, boêmia, caracteres, cartomancia, celtibero, circuito, decano, filantropo, fluido, fortuito, gratuito, Hungria, ibero, impudico, inaudito, intuito, maquinaria, meteorito, misantropo, necropsia (alguns dicionários admitem também necrópsia), Normandia, pegada, policromo, pudico, quiromancia, rubrica, subido(a).
·         São palavras proparoxítonas, entre outras: aerólito, bávaro, bímano, crisântemo, ímprobo, ínterim, lêvedo, ômega, pântano, trânsfuga.
·         As seguintes palavras, entre outras, admitem dupla tonicidade: acróbata/acrobata, hieróglifo/hieroglifo, Oceânia/Oceania, ortoépia/ortoepia, projétil/projetil, réptil/reptil, zângão/zangão.

Pontuação

Ponto-e-vírgula (;)
Poucos sabem usar corretamente o ponto-e-vírgula, até porque é possível escrever textos extensos sem necessariamente ter que usar esse sinal de pontuação, em que pese sua grande utilidade. Trata-se de pontuação intermediária entre a vírgula e o ponto, pendendo mais para o ponto, já que todo ponto-e-vírgula pode ser substituído por ponto.
Reticências (...)
Pode ser usado em três diferentes circunstâncias:
1.     para indicar supressão de letras, palavras ou frases;
2.     para assinalar pausa prolongada;
3.     para marcar a supressão do pensamento.
O Desafio da vírgula (,)
O domínio da pontuação, especialmente da vírgula, é sempre um desafio, exigindo atenção, entendimento do texto e conhecimento de sintaxe. Sendo a vírgula o maior dos problemas, vamos a ela.
Observe a estrutura regular (ordem direta) de uma frase:
Sujeito
 Predicado
 (verbo)
 Complemento(s)
 Circunstância(s)
 (adjuntos adverbiais)
A cigarra
 morre
 de frio e de fome
 no inverno.
Importante: Se a frase for construída por apenas esses elementos, cada um em número não superior a dois, nessa ordem, não há condições para se usar vírgula.
Quando se usa vírgula? Regras práticas:
1.     Quando se altera a ordem direta, especialmente do(s) adjunto(s) adverbial(is): No inverno, a cigarra morre de frio e de fome.
2.     Quando se introduzem novos elementos, como aposto, vocativo, orações explicativas e intercalações em geral: A cigarra, símbolo da ociosidade, morre de frio e de fome no inverno.
3.     Quando há necessidade de isolar certas expressões, de separar partes de uma frase e de separar diversas orações, ou ainda as várias partes do sujeito, do predicado, do complemento e das circunstâncias: Sabe-se, por semplo, que se lê pouco. São Carlos, 13 de março de 2003.
Seguindo-se a orientação anterior, grande parte dos problemas de virgulação estarão superados. Mesmo assim, vamos a algumas regras mais específicas. Usa-se vírgula:
1.     Para separar várias orações de um período e as várias partes do sujeito, do predicado, do complemento e das circunstâncias: César chegou, viu e venceu. Estudamos Português, Matemática, Psicologia e Sociologia.
2.     Para isolar termos deslocados da ordem direta, especialmente adjuntos adverbiais, já que sua posição regular é no final da fras: No inverno, a cigarra morre de frio e de fome. Essa vírgula pode ser omitida, especialmente quando os termos são constituídos de apenas uma palavra: Hoje haverá sessão.
3.     Para isolar o aposto: O diretor da escola, prof. Fulano de Tal, interveio.
4.     Para isolar o vocativo: Desperta, São Paulo. Saibam, senhores congressistas, a verdade sobre a situação.
5.     Para isolar certas expressões, como isto é, por exemplo, ou seja, etc.: Isso não ocorreu, isto é, ninguém provou nada.
6.     Para isolar orações adjetivas explicativas: O Brasil, que é nossa Pátria, merece o melhor.
7.     Para isolar orações e termos intercalados: O juiz, como já havia afirmado, condenou o réu.
8.     Para separar certas orações coordenadas, em especial as introduzidas por mas, logo, contudo, pois, etc.: Não conhece muito, mas aplica muito o pouco que conhece. Deslocadas para o meio da frase, essas partículas devem ser isoladas por vírgulas. Observe o procedimento nos dois casos: A cruz é pesada, contudo equilibra nossos passos. A cruz é pesada; equilibra, contudo, nossos passos.
9.     Para suprir falta de conectivo: Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.
Emprego da vírgula com OU
Emprega-se vírgula antes de ou:
1.     Se houver alternativa ou retificação do pensamento: Ou chove muito, ou o calor é insuportável.
2.     Para obter ênfase: Ou César, ou nada!
Emprego da vírgula com E
1.     Separam-se as orações sindéticas aditivas iniciadas por e quando tiverem sujeitos diferentes:Ri, e rirá teu amigo.
2.     Pode-se também usar vírgula antes do e para obter efeito estético: Trabalha, e teima, e lime, e sofre, e sua (Olvao Bilac).
3.     Ainda pode ocorrer vírgula antes do e quando for precedido de uma intercalação, assim como o e será seguido de vírgula sempre que for seguido de intercação: Paulo teve sucesso, porque é dedicado, e, tendo obtido prêmios, recebeu sua recompensa.


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